Exemplo

Andryas Wavrzenczak
4 min readMay 23, 2021

Ahhh crianças… crianças são tudo na vida, é o que da sentido pro futuro e o que trás felicidade pro presente. A parte legal é que todos nós já fomos criança um dia só que, como observou muito bem Antoine de Saint-Exupéry, a maioria simplesmente esqueceu como é.

Aqui na minha casa mora muita gente, eu, meu irmão (Bruno) , minha irmã/prima (Isabella), Vó (Jussara), Tia Eliane, o pequeno Aníbal (3 anos), o menor ainda Heitor (1 ano) e meu tio (Átila). A quantidade de gente pode assustar e a primeira coisa que sempre perguntam é “Tem muita briga entre vocês? Como é o convívio?”. Isso porque a gente sabe que quanto mais pessoas em uma casa maiores a chance de ocorrer brigas, desentendimentos etc… se em uma casa as vezes com duas, três pessoas tem discussões tente imaginar uma em que vivem 8.

Enfim, volte e meia temos algumas desavenças mas nada grave, posso dizer que vivemos em perfeita harmonia, tirando o barulho das crianças. É, crianças dão trabalho para um caralho, porém, nos seus ínfimos momentos sendo criança, como quando te chamam pelo nome a primeira vez, repetem um comportamento seu, pedem alguma coisa seguida de por favor, falam de alguma descoberta, te surpreendem com uma informação etc… é que você vê que todo aquele barulho diário é devidamente pago e ainda com juros!

Tenho uma experiência marcante na minha memória de quando o Aníbal no auge dos seus dois anos, ainda nunca tendo me chamado pelo nome, bateu na porta do meu quarto e falou “Dinho, você ta ai?’ (OBS: Dinho é meu apelido). Eu, focado no que estava fazendo fiquei desarmado e aquilo me preencheu de um carinho e uma felicidade sem precedentes. É mágico!

Outra experiência incrível foi uma vez em que ele estava procurando pela mãe dele e não achava e não achava, chamava pelos quatro cantos da casa até que ficou parado em frente ao banheiro, e quando a mãe dele saiu ela perguntou “Como você sabia que eu estava aqui”, e o Aníbal responde: “Minha intuição mamãe”.

Como eu havia dito, são esses momentos que pagam todos os outros momentos de chatice, birra e barulhos.

Das coisas extraordinárias presente nas crianças o que eu mais gosto é o exemplo e como isso é uma das coisas que mais explicam a nossa própria vida, ao meu ver.

Quem somos é porque realmente desejávamos ser? Seu emprego, seus gostos, sua forma de ver a vida, são seus ou são herdados? Bem, isso é um dos assuntos que mais discuto nas minhas longas sessões de terapia, rs. Tenho dificuldades hoje em dia em tomar decisões e julgamentos acerca das pessoas, pois, quando paro e tento ver o histórico de vida de cada um, a situação simples em que se encontramos se torna difícil e complexa. Claro, existem casos e mais casos e não estou aqui como alguém em busca de senso de justiça, apenas divagando sobre quem somos.

Não tenho uma resposta ou uma verdade absoluta, no entanto, tenho cada vez mais convicção de que as crianças são moldadas pelo ambiente e ponto. Nós somos o que o ambiente reflete em nós muito mais do que nossas próprias bases biológicas. O Heitor, por exemplo, nas últimas semanas tem cismado bastante com o computador, talvez porque me veja grande parte do dia nele e vez ou outra trago ele aqui no meu quarto e fico mostrando os periféricos do computador. E assim, de repente começou a digitar, mexer, fazer sei lá o que ele faz com uma replica simplificada de um computador. As vezes fica falando sem parar e discutindo com o computador… (Gostaria eu entender esses monólogos)

Aqui em casa também prezamos bastante pela leitura, um hábito que posso dizer que foi criado pelo meu tio, passado fortemente pra mim, e eu pros demais e assim não é difícil encontrar volte e meia alguém lendo algum livro. E olha que engraçado, já pegamos diversas vezes o Aníbal deitado em algum lugar com as pernas cruzas “lendo” algum livro, e quando perguntávamos “o que você está fazendo Aníbal”, ele respondia “Estou lendo”.

Nesses pequenos acontecimentos, fora os diversos outros, como por exemplo os cuidados que o Aníbal tem com as plantas que até chega a fazer carinho nelas porque a vovó ensinou, torna-se difícil, pelo menos para mim, dizer que os talentos, as apreciações pela vida do futuro Heitor e do futuro Aníbal sejam exclusivamente deles.

Assim, no meu entendimento, somos o produto das centenas de milhares de pequenos exemplos que fomos expostos ao longo da nossa formação como pessoa, principalmente nessa primeira infância, e por causa disso é difícil, quando adulto, olhar para trás, bater no peito, e dizer que o mérito de estar onde está, de ter conseguindo sucesso nos negócios, sucesso nas relações pessoais ou em qualquer outra coisa, seja propriamente teu, porque independente de onde quer estejamos, se chegamos aonde chegamos é porque existiu pessoas que puderam proporcionar as condições, as experiências, as vezes boas, as vezes ruins, para estar aqui, agora.

E nesse momento idealizador me pego divagando num futuro distante onde essas crianças crescem e de alguma forma ou de outra, começam a atuar em alguma área parecida com a minha e ansiosamente espero um deles dizer “Comecei a fazer estatística porque meu tio Andryas mostrou pra gente e parecia bem legal etc…”, e nesse momento eu provavelmente, internalizando o tio dentro de mim, falaria ‘senta aqui que lá vem história…”

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